SAUDADE, UMA PALAVRA BEM PORTUGUESA
- morphofarfalla
- Mar 31, 2021
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No mundo existem 7 mil línguas. Todas estas línguas são diferentes umas das outras, pela forma de escrever, de pronunciar e de expressar. Algumas destas sete mil línguas têm palavras que não têm tradução nas outras, sendo assim palavras únicas ou exclusivas. Em Portugal a nossa palavra exclusiva é Saudade.
A sua origem tem várias teorias. Há quem diga que vem do árabe ‘saudah’. E há quem defenda que provem do latim ‘sólitas’ ou ‘solitate’, que significa solidão ou isolamento. Nalguns idiomas a definição de “solitate” foi mantida. Em português foi-se alterando com o tempo, tanto que quando alguém dizia “tenho saudades de casa” significava que se sentia só por estar longe de casa.
Na época dos Descobrimentos esta palavra ganhou importância, porque os marinheiros tinham um sentimento de tristeza, de melancolia e de solidão por estarem longe da sua terra e da sua família durante tanto tempo. Há quem diga que foi nesta altura que ‘saudade’ integrou para o dicionário português.
Saudade: ‘Lembrança triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de as tornar a ver ou a possuir; pesar pela ausência de alguém que nos é querido; nostalgia’ (pág. 1334, Dicionário de Língua Portuguesa, Textos Editores)
Esta palavra sempre teve um grande simbolismo para mim. Sou uma pessoa muito ligada às minhas memórias e à nostálgica. Adoro estar com os meus amigos ou com a minha família a recordar histórias passadas. Histórias que nos fazem rir e que nos unem.
Todos dizem que não devemos viver no passado e que devemos aproveitar o presente, pois este é que está a acontecer agora. E eu concordo. Mas faz bem lembrarmos, de vez enquanto, o que fomos e o que vivemos, para podermos ver a nossa evolução e para podermos dar valor ao que somos hoje. Nem sempre a vida é um mar de rosas, mas por norma o nosso cérebro tende a reter mais facilmente as boas memórias do que as más.
Esta situação do covid-19 veio dar uma volta de 180° na nossa vida. De repente, aquilo que dávamos por garantido, num abrir e fechar de olhos, desapareceu. Este inimigo que não vemos obrigou-nos ao afastamento, ao isolamento e à solidão. Obrigou-nos a mudarmos os nossos hábitos e a mudarmos a nossa maneira de interagirmos uns com os outros. Obrigou-nos a aceitarmos uma realidade que para nós tinha ficado em 1800 e tal.
No entanto, o COVID veio reforçar o significado e a importância da palavra saudade. Saudade de sair à rua livremente. Saudade de andar com a cara livre de máscaras. Saudade de abraçar os que mais gostamos. Saudades de sair com os amigos. Saudades de fazer almoçaradas em família. Saudades de ir viajar. Saudades de ir a um concerto ou um festival. Saudades de sermos livres.
Esta pandemia fez-me viver um momento, particularmente, difícil. Infelizmente perdi um ente querido, o meu tio. Perante esta perda, fui inundada por um sentimento de tristeza e de saudade. Saudades dele e de tudo o que partiu com ele e que unia a nossa família. Tal como aconteceu quando meu avô partiu, há 11 anos.
Há coisas, pessoas e situações na nossa vida que não podemos recuperar nem voltar atrás. Mas a Saudade ensina-nos, com o tempo, que devemos ficar gratos por ter acontecido. A Saudade ajuda-nos a reconfortar esta tristeza e a aceitar o que aconteceu. Ao longo da minha vida tive momentos em que sentia o ‘mundo a desabar’. Contudo, hoje sou grata por isso, porque se não fossem esses acontecimentos eu não era o que sou hoje.
Escrito por: Adriana Lourenço
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