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LAR DOCE LAR

  • morphofarfalla
  • Feb 6, 2021
  • 7 min read

Updated: Mar 24, 2021

A nossa casa é a pintura de quem somos, é a nossa alma. Quando entramos na casa de alguém percebemos que tipo de pessoa é através do tipo de decoração, disposição da mobília e acessórios como plantas, quadros, tipo de tapeçaria.


O Happiness Research Institute, em conjunto com o Kingfisher, realizou um estudo intitulado de ‘The GoodHome Report’ (O Relatório da Casa Boa), publicado em Junho de 2019. Teve como objetivo procurar responder a duas questões: ‘O que faz uma casa feliz?’ e ‘Como podemos fazer mais pessoas felizes nas suas casas no futuro?’. Para o estudo foram convidadas mais de 13 mil pessoas de 10 países da Europa (Dinamarca, Rússia, Itália, Holanda, Polónia, Espanha, Roménia, França, Reino Unido e Alemanha).


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Figura 2.1 (The GoodHome Report, junho 2019)

O estudo apurou-se que 73% dos participantes estão felizes com a sua casa e com a vida em geral. Adicionalmente, averiguou-se que a importância que uma casa feliz tem nas suas vidas, é de 15%, encontrando-se em segundo lugar de 6 variáveis (quadro acima). The GoodHome Report foi dividido em três partes que abordam as condições mais importantes para uma casa feliz, nomeadamente: Condição emocional; Condição material; e Condição pessoal.


A Condição Emocional refere-se ao sentido de pertença e aos sentimentos que nutrimos quanto à nossa casa. Deste modo, foram identificadas cinco emoções centrais (Five Core Emotions) que estão interligadas entre si. As Cinco Emoções Centrais são:

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Figura 7.1 (The GoodHome Report, junho 2019)


O Orgulho (Pride) que se destaca com 44% face às outras 4 emoções. O que significa que, no geral, as pessoas dão mais valor às suas conquista. É fácil perceber o porquê. Quando lutamos muito por algo e entregamos muito de nós a esse algo, tendo em conta os altos e baixos, no fim a conquista trás um sentimento de realização, posse e controlo. Quanto à casa estas conquistas podem ser obras ou remodelações que façamos.

“Então, o que me deixa orgulhoso é que esta é a minha casa. A minha esposa e eu temos a construímos e tudo o que temos é nosso. Sabes, eu não tenho dívidas, por isso se eu quiser vender algo, é meu para vender. Então isto é o que me faz orgulhoso porque nós não tínhamos nada e agora temos algo.” - Giorgio, 60, Berkshire, UK (Capítulo 3 - página 14)

O Conforto (Comfort) é a emoção que se encontra em segundo lugar com 25%, e está relacionada com o nosso estado mental. A nossa casa deve ser o lugar onde nos desligamos do mundo e onde encontramos o nosso refúgio seguro, sem stresses e confusão. Desta forma, podemos focar-nos em nós mesmos e nas coisas que nos dão prazer.

“A minha casa é o meu próprio santuário. O meu trabalho é muito social; eu gosto de chegar a casa e apenas relaxar e não ser incomodada por ninguém.” - Vanessa, 31, Antrim, Northern Ireland (Capítulo 3, página 11)

A Identidade (Identity), com uma classificação de 17%, está relacionada com o facto de a nossa casa ser a melhor definição de nós mesmos. A decoração, as cores, a mobília e os pequenos pormenores dizem muito de quem somos e de como gostávamos que os outros nos vissem. A nossa casa é o local onde nos podemos expressar sem o julgamento dos outros e onde podemos ser livres.

“Eu sinto-me em casa aqui. A nossa casa tem a nossa identidade dentro dela. Faz-me sentir que está conectada comigo mesma.” - Ellen, 44, Amsterdam, Holland (Capítulo 3, página 11)

A Segurança (Safety), conforme a Pirâmide de Maslow, é a segunda categoria mais importante das necessidades humanas, apresentando-se neste estudo com uma classificação de 10%. Está ligada à segurança física, que advém de vários fatores como o local onde vivemos, os vizinhos, o tipo de construção da casa, a qualidade do saneamento, a temperatura média e entre outros.

“[A minha casa é…] um refúgio, um castelo. Porque sinto-me seguro, sinto-me protegido e não me sinto em perigo, não sinto que alguém pode-me incomodar. Eu sinto-me seguro. Dentro destas paredes, eu sinto-me seguro.” - Giorgio, 60, Berkshire, England (Capítulo 3, página 11)

O Controlo (Control) é a emoção com a classificação mais baixa, sendo esta de 4%. No estudo o Controlo está relacionado com as finanças e as decisões. Por exemplo, a renda da casa ou a renda do empréstimo bancário, não está sobre o nosso controlo, o que pode provocar alguma insatisfação face à casa, pois ela não é totalmente nossa, o que não nos permite fazer grandes mudanças/remodelações.

"Quando a casa não é vossa, não conseguem fazer as mudanças que querem, e nunca sentem que a casa é vossa. Portanto, quando nós compramos a casa podemos finalmente pensar: eu vou pintar esta parede desta cor. Nós finalmente sentimos que o apartamento é nosso" - Silvia, 30, Madrid, Spain (Capítulo 3, página 12)

A Condição Material foi o segundo ponto abordado neste estudo. Mais do que nos sentirmos bem emocionalmente com a nossa casa é importante que esta apresente, no geral, boas condições. Uma casa que tenha muita humidade, tetos em risco de cair ou um mau saneamento, provoca desconforto, insegurança e, consequentemente, infelicidade. O estudo revela que o mais importante é ter uma casa com boas condições e que se adapte às necessidades futuras da nossa vida.

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Figura 4.1 (The GoodHome Report, junho 2019)


Muitos pensam que quem tem casa própria é mais feliz do que quem arrenda. Mas no The GoodHome Report percebeu-se que este fator não é decisivo, porque não somos todos iguais. Contudo, para efeitos de finanças quem tem casa própria é mais feliz, pois mesmo que tenha de pagar impostos e taxas, o risco de perder a casa é menor.


Outro ponto abordado é a diferença entre o espaço e o tamanho da casa. O estudo revela que as pessoas, no geral, preferem uma casa com espaço a uma casa muito grande, ou seja, é preferível ter uma casa de tamanho médio onde o número de divisões é o suficiente para o número de pessoas do agregado familiar e que estas sejam espaçosas.


Tendo em conta todos os fatores que já falei até agora, o estudo apurou que o mais importante para a felicidade perante a casa é que esta tenha boas condições. Com base nas respostas dos 13.489 participantes, concluiu-se que “9% estão insatisfeitos com a qualidade do ar, 13% não têm qualquer acesso a áreas verdes, 14% está insatisfeito com a humidade, 16% está insatisfeito com a temperatura, e 5% não está satisfeito com as suas facilidades de saneamento.” No entanto, a insatisfação com o espaço da casa é a variável que mais se destacou com uma classificação de 20%.


Atualmente, 55% da população mundial vive em cidades. Costuma-se dizer que viver na cidade aumenta o stress e a ansiedade. No entanto, neste estudo chegou-se há conclusão que não existe uma discrepância assim tão grande quanto à felicidade entre quem vive no meio rural e quem vive na cidade. Tal como já referi, anteriormente, somos todos diferentes, e enquanto uns preferem o sossego do campo outros preferem a agitação da cidade. Contudo, não deixa de ser importante ter espaços verdes ao pé de casa, porque o contacto com a natureza ajuda a apaziguar a mente.


Por fim temos a Condição Pessoal. Esta condição acaba por ser uma correlação entre a condição emocional e a condição material com uma perspetiva futura. Há medida que vamos ficando mais velhos, vamos tendo uma necessidade cada vez maior de assentar. Este estudo revela que a partir dos 50 anos o índice de felicidade para com a casa aumenta exponencialmente. Isto deve-se ao facto de, primeiro ser por norma uma idade onde as pessoas já têm a necessidade de assentar num sítio, segundo porque é a idade onde ainda têm energia e capacidade para fazerem remodelações na sua habitação e terceiro porque é a altura onde os filhos já estão crescidos ou já saíram de casa, e por isso sobra-lhes mais tempo.


O The GoodHome Report concluiu, também, que quantos mais anos nos imaginamos a viver na casa maior é a felicidade com a mesma. No entanto, os mais jovens não são de assentar na primeira casa que habitam, porque ainda vão ter muitas mudanças nas suas vidas e por isso haverá uma necessidade de adaptação.

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Figura 5.1 (The GoodHome Report, junho 2019)


A parte social foi um aspeto também referido, ou seja, o estudo revela que quem recebe mais amigos/ familiares em casa não é mais feliz com a casa do que quem não tem por norma receber pessoas em casa. Há quem seja mais extrovertido e há quem seja mais introvertido, e por esta razão naturalmente quem é extrovertido tem a necessidade de ter mais vezes a casa ‘cheia’. No entanto quando se perguntou aos participantes se era importante ser-se social em casa, a média foi de 7,9 (numa escala de 0 a 10) na variante ‘concordo completamente’ e de 6,1 em ‘discordo completamente’.

“ O meu trabalho é muito social. Eu gosto de chegar a casa e relaxar apenas e não ser incomodada por ninguém.” - Vanessa, 30, Anthrim, Northern Ireland (Capítulo 5, página 26)

O The GoodHome Report revela que a Holanda é o país que tem o maior índice de felicidade em relação à habitação, com uma média de 7,69 (numa escala de 0 a 10). Contudo, os outros países não apresentam diferenças muito grandes. No geral, estes 10 países têm boas condições de habitação, boas estruturas, bom saneamento e facilidade ao acesso de bens de primeira necessidade. Para além disto, ainda têm um fator importante que é a confiança, para com o vizinho e a comunidade. Viver num país, numa cidade, ou num bairro onde podemos confiar nos que nos rodeiam é importante para nos sentirmos em segurança e felizes com a nossa casa.

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Figura 6.1 (The GoodHome Report, junho 2019)


Infelizmente, atualmente, estamos a viver tempos que nunca imaginamos viver. Esta pandemia obrigou-nos a diminuir o contacto uns com os outros, obrigou-nos a mudarmos as nossas rotinas, obrigou-nos a perceber que aquilo que dávamos por garantido afinal não está e obrigou-nos a passar aniversários, Páscoa, Natal e Ano Novo longe dos que mais gostamos. A ansiedade, a depressão e a solidão, consequentemente, aumentaram. Deste modo, a nossa casa passou a ser o local onde passamos a maior parte do nosso tempo, senão mesmo 24 sobre 24 horas por dia. Mas nem tudo é mau. Este confinamento obrigou as pessoas a olharem para a vida e para a casa de forma diferente. De repente, aqueles projetos que estavam há anos para serem feitos e aqueles terraços, varandas e jardins que estavam esquecidos, para além de ganharem vida, tornaram-se locais essenciais na casa. Ou seja, a nossa casa passou a ser o nosso porto de abrigo, o nosso aconchego e o espelho de quem somos. Por esta razão é importante que a tornemos num local confortável, seguro e nosso.


Escrito por: Adriana Lourenço

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